Há quem definitivamente torça o nariz para coaching e vire a cara para a autoajuda. Ok, até entendo, mas não dá para ignorar um sujeito que mobiliza milhões ao redor do mundo, influencia líderes como Bill Clinton, motiva atletas como Serena Williams, treina apresentadores como Oprah, dá dicas de gestão e negócios para os maiores magnatas do planeta e mostra a bandas de rock e outros ídolos pop os truques para lidar com multidões… Não ensina (ainda) o Papa a rezar missa, mas mostra o caminho a quem quiser falar com Deus (ou, ao menos, com seu deus interior).
E, assim, lá fui eu até a Jeunesse Arena, na Barra da Tijuca, no Rio, ver o que o Tony Robbins tem.
E, de cara, dá para ver que ele tem um dos maiores queixos das Américas. Com maxilar de personagem de desenho animado, dois metros de altura e perfil de quarterback de futebol americano, Robbins aproveita sua presença física para magnetizar a plateia. Na Jeunesse Arena, já assisti a jogos de basquete, shows de rock, apresentações de artistas circenses, patinadores e até a torneios de MMA, mas essa certamente foi a multidão mais engajada dentre todas as minhas experiências naquele espaço. Uma tarde com Robbins tem momentos de rave, pregação no estilo gospel, meditação em grupo, pantomima e coro ao estilo de colégio. É divertido e dá para aprender um bocado sobre nossos tempos. Aqui vão algumas impressões, sem a pretensão de resumir o pensamento do guru (que, algumas vezes, nem parece ser tão extenso assim).
A mensagem de Robbins muitas vezes soa mais do que simples, parece simplória. Frases como “a verdadeira decisão é medida pelo fato de que você tomou uma atitude. Se não houver atitude, então você realmente não decidiu” podem parecer banais, mas não deixam de ter, sim, o poder de dar aquele empurrão que faz finalmente o sujeito agir e se mover. Outras recomendações como “tenha um plano estruturado” se encontram numa etapa anterior ao que se consideraria um mero ponto de partida para projeto no mundo corporativo, mas quantos milhares de leitores de Robbins jamais tiveram a oportunidade de estruturar um negócio e se viram lançados a um desafio por força da crise econômica, do desemprego ou mesmo por um drama familiar? O conselho pode parecer banal aos seus ouvidos, mas quem sabe não funciona como o abracadabra para alguém numa situação inédita na vida profissional? Se a frase de efeito produz o efeito, então ótimo, atingiu seu resultado (como essa frase que acabei de inventar e escrever, espero). Com sua clareza e falta de pudor em alardear o óbvio, Tony Robbins é autor de diversos best-sellers, como “Poder Sem Limites” e “Desperte Seu Gigante Interior”. No mínimo, se você não acredita na mensagem, admire o formato: ele sabe como dar seu recado para muita gente ao mesmo tempo.
Quando Tony Robbins veio pela primeira vez ao Brasil, em 2018, o preço de alguns ingressos já passava de R$ 5 mil. Ali, não tem conversa fiada: o acesso ao sonho passa pelo bolso. Ninguém parece inconformado. O tom é de investimento. Ou seja, para o sonho virar realidade, tome aqui meu cartão de crédito…
Eu gosto especialmente dessa orientação do Tony: treinar, treinar, treinar. Que você pode substituir por simular ou testar ou experimentar ou qualquer outro verbo que indique que a repetição e o exercício são os caminhos para o aperfeiçoamento e a perfeição. Robbins cita, em suas palestras, diversos exemplos de atletas que alcançaram a excelência não apenas por seus dons e pela bondade divina, mas também pela dedicação. Um espírito cuja aplicação ele naturalmente defende no mundo dos negócios. Num país em que o “Treinar, pra quê?” romariano – sintetizado no pagode-deboche de Tom Cavalcante – já resumiu o nosso espírito, não deixa de ser uma ideia poderosa e transformadora.
Mais uma boa do Tony. Só que não se trata aqui de autoridade dando “carteirada” e se achando com mais direitos do que qualquer cidadão. Saber com quem se fala e entender o interlocutor é a chave para o o sucesso da comunicação. Tem que perceber e dimensionar o outro lado, reunir dados, pesquisar, conhecer hábitos e comportamento. O que ele alerta na palestra é que muitas vezes assumimos como verdade algumas máximas que não passam de achismo ou percepção superficial. Vende mais, diz Tony, quem saca o modo de tomada de decisão. Vale para cliente, fornecedor, consumidor, colega de trabalho e, no nosso universo da comunicação, leitor/usuário. E o melhor de tudo: nunca tivemos tantas ferramentas à disposição como agora para mensurar – e melhorar – essa relação.
A palestra do guru é tipo montanha-russa… Só que você passa horas no carrinho. Manter a atenção da audiência é mexer com todos os sentidos, muito mais do que só despejar palavras em série. A experiência motivacional é uma imersão completa: tem forma, conteúdo e… vibração. Não basta uma história, vale muito mais o jeito de contar. E com quanto mais recursos, melhor. Para quem está atrás de seus objetivos, ânimo é tudo. E se você duvida disso, é só pensar no tema de Rocky Balboa. Dá vontade de malhar só de imaginar. Relembre aqui. Robbins é isso: um Rocky tocando no fone e te fazendo ter disposição para correr atrás e arrancar energia de onde você não acreditava ter mais.
Robbins fala para a massa, mas passa a sensação de que a conversa é com cada um. Soa íntimo e sincero. Roberto Carlos já era o Rei quando cantou “Jesus Cristo, eu estou aqui!”, um apelo individual no meio de “uma multidão que vai caminhando”. E ele continuava na canção dos anos 70: “Toda essa multidão / Tem no peito amor / E procura a paz / E apesar de tudo / A esperança não se desfaz”. É um bocado essa a sensação ao fim da sessão com o guru: a de ter passado a tarde ao redor de muita gente com esperança. De um emprego melhor, de bons resultados nos negócios, de uma promoção, de uma conquista profissional, de um destaque na multidão. Acho justo, uma aspiração legítima. Se o homem do queixo quadrado consegue despertar esse sentimento em seus fãs, já tem o meu respeito. Touch down!
* Alexandre Freeland é Diretor de Projetos Estratégicos de O Globo, Época e Extra